Juras e anúncios falsos.

Do outro lado da névoa tem uma mulher


Eu tenho desaparecido aos poucos. Estou sempre por aqui, toda sexta estou em um mesmo lugar e quase todo domingo estou em outro, mas eu tenho sumido. Alguns amigos perceberam, outros não. Alguns sabem que eu sou assim e só me esperam voltar, outros não. Nessas fases, às vezes fico mais próxima de uns que de outros, outros esses que muitas vezes estão entre as pessoas que mais amo no mundo e eu também não entendo os critérios. A questão é que eu não conheço ninguém que ame mais a própria companhia do que eu mesma e passo por fases em que eu tenho extrema necessidade de ficar só comigo. Isso veio mais forte ainda após uma época em que eu não podia ser eu mesma sem machucar outra pessoa, sem que minha forma de existir a ferisse e eu acabasse me ferindo junto por não “poder” ser. Já venho de um tempo me amando, igual a música de Seu Pereira e coletivo 401, que diz “Mas fui me armando / Me despindo, me trocando / Me sentindo, me soltando / Varrendo, arrumando a casa / Mexendo a ponta da asa! / Mostrando que eu tô esperto / Deixando o portão aberto” e agora só falta a parte do “Para quem quiser entrar”. Ninguém pode entrar aqui não, não agora. Mas sinto falta do carinho. Sinto falta de me sentir à vontade abraçando as pessoas. Eu tenho feito novas amizades, mas notei com tristeza que quando uma delas veio me abraçar, por pura demonstração de carinho, eu senti como se não tivesse mais em controle dos meus próprios braços. É estranho. Já faz um tempo isso, muito mais tempo do que eu gostaria e me pergunto se um dia vou me recuperar. Espero que sim.

Eu tenho desaparecido aos poucos. E. Tudo. Bem.

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O recado esquecido no bolso (e na mente)

Você me fez pequena, mesmo que sua maior vontade fosse me ver grande, mas grande dentro dos seus limites do que é ser grande. Grande dentro do seu entendimento do que é ser grandemente feliz. Grande dentro da sua capacidade de conversas coisas aleatórias, mas nunca grande dentro da minha vontade de conversar coisas importantes. Você me colocou no topo do seu mundo, mas eu tinha que ser o topo de tudo sem que ninguém soubesse, sem chamar a atenção, sem que ninguém me visse além das pessoas com quem você se sentia à vontade: e isso somava umas dez pessoas ou quinze, quando esse número é a quantidade de pessoas que conheci nos 2 últimos meses e falo abertamente sobre minha vida. Você dizia que não queria ser assim, e eu entendo. Eu acredito até. Mas eu já tinha passado por muita coisa e já tinha uma bagagem muito grande pra carregar a sua, pra esperar a sua ficar mais leve. Pra esperar que você não quisesse me barrar quando eu ouvisse uma música tocando e começasse a dançar, porque a realidade é que eu nem preciso de música, eu danço pela simples alegria de existir. Pra esperar que você não dissesse que tem ciúmes de minha amiga porque eu pareço ser mais aberta com ela, sendo que você me obrigava a ser fechada, porque quando eu me abria, você se encolhia de vergonha, e eu sentia culpa por existir, por ser quem sou. Pra esperar você começar a conversar com meus amigos e não ter mais que dedicar 100% do meu tempo a te fazer se sentir importante numa mesa cheia de outras pessoas importantes. Eu não podia sentar e esperar você entender que é normal outras pessoas terem passado por minha vida, pelo meu corpo, pela minha história. Que é normal que eu tivesse tido uma vida plenamente feliz antes da sua chegada. Que não é normal você deitar em posição fetal porque dois anos antes eu havia estado com alguém que você conhecia. Que não é normal você implorar para fazermos sexo, após uma briga, e chorar depois de eu ceder, porque você sentia aquilo como prova do meu amor quando eu só queria que você fosse embora. Não era normal você querer que eu me trancasse no seu mundo porque a única maneira correta de existir era a sua.



Esses dias eu tenho pensado muito em você. E sonhado com você. E minha família fala de você, mas eles não sabem como eu fui infeliz, mesmo que nunca você tivesse a intenção de fazer isso acontecer. Minha mãe fala de você e eu sinto vergonha de macular sua imagem. E eu deixo então todos pensarem que eu fui alguém ruim pra você. Eu deixo. Eu deixo todos ficarem inconformados porque deixei você e sua família entrarem em nossas vidas, mas se eu não deixasse, você choraria.



Eu lembro quando eu te chamei de amor pela primeira vez e você fez careta, pois não queria que os outros ouvissem, mas lembro que você disse que me amava antes mesmo de namorarmos. Eu lembro quando comprei um porta-retratos para gente e você não quis, pois não queria que os outros vissem, mas lembro que você cobrava que eu postasse foto com você nas redes sociais. Eu nunca te entendi. Nem entendo. Nem irei entender. Porque teu mundo era tão fechado nas tuas ideias que nem mesmo se eu passasse a vida ao seu lado, eu conseguiria.

Teve a vez que você falou mal de uma de minhas melhores amigas, porque ela era aberta demais. Chamava a atenção demais. Ria alto demais. Você quis falar mal dela, sem saber que ela e eu somos a mesma pessoa em corpos diferentes e eu só não vinha agindo assim porque você se ofendia com minha existência real. Ao menos era o que transparecia. Era o que me fazia sentir.

Também houve as vezes em que você me perguntava se eu tinha dormido com outros homens, citava nomes, se eu tinha feito x ou y com eles também. E eu dizia que não, porque não querer falar sobre era (pra você) dizer que sim. E dizer sim seria (pra você) o fim do mundo.

Eu repasso tudo na cabeça. Tudo. E eu me sinto mal. Porque eu saí mais inteira do quê antes e mais certa do que é certo pra mim. Mas eu fui seu primeiro amor. E o primeiro amor nos rasga o peito e tira qualquer vontade de amar outra vez (até que aconteça de novo).

Eu tenho lembrado muito de você. E o peito dói porque também te fiz mal. Eu abri um espaço na minha vida pra você e tenho certeza que hoje você seria muito mais feliz se nunca tivesse se apaixonado por mim. Tão perdidamente. Tão: você é o amor da minha vida e eu não sei o que fazer dela sem você.

Quando terminamos eu só senti alívio. Dias depois botei a mão no bolso e vi um papel. Você tinha me dado pra ler depois no dia que terminamos e eu esqueci. Na hora nem mesmo lembrei que você tinha me dado aquilo, abri, li e não faço mais ideia do que tinha escrito. Rasguei e joguei fira. Pra mim, era alívio e como se aqueles meses sufocantes faziam parte da história de outra pessoa.

O primeiro final de semana após terminarmos eu dediquei todo a mim. E eu nunca senti tanta liberdade em minha vida. Liberdade de escolha de poder fazer o que me dá prazer sem afetar negativamente a vida de outra pessoa, pelo simples fato de eu não querer passar 24h por dia juntos. Mesmo que a escolha fosse comer e assistir Netflix. O peso da culpa tinha me tirado o prazer das mínimas coisas. Me machuca lembrar disso.

E se reforço e falo e falo de novo sobre nós é pra eu não me sentir culpada por não querer carregar um peso que não é meu e não deve pertencer a ninguém. Um peso-âncora. Um peso-morte-de-mim-mesma. Um peso que me fazia nunca me sentir suficiente para você, porque o meu real não era bom o bastante, pois meu eu real não era igual o seu.

Não posso me sentir culpada, mesmo que eu sinta muito. Eu também te coloco no topo do mundo das pessoas de "coração bom", que erram sem saber. E não posso continuar a fazer isso comigo, e por isso repito todos os seus erros, pois dos meus já sei muito e tanto que nem mesmo um livro inteiro caberia tantas letras.

Eu escrevo pra lembrar os motivos.
Eu escrevo pra esquecer que doeu.









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Cartas para Ana 3

Querida Ana,


Tanto tempo que não te escrevo, tanta coisa pra falar... Sabe, eu abracei o egoísmo e durmo agarrada nele todas as noites. Ele me fala que tudo bem eu pensar em mim, que tudo bem eu não fazer pelo outro o que eu não quero. Que tudo bem estar deixando ir tudo o que me era obrigação. Tudo o que me pediam, eu fazia, tu sabe. Se alguém dissesse estar com vontade de algo, eu ia lá e providenciava. Se alguém me pedisse algo, por mais que eu não tivesse vontade alguma de fazer, eu faria. E hoje as pessoas ficam com raiva, Ana. Elas não entendem que eu não quero mais fazer a vontade de todo mundo. Elas não entendem que não é porque elas querem algo que eu devo ir lá fazer. Eu as acostumei assim, fazendo cada um ao meu redor se sentir o centro do universo, e agora eu finalmente entendi que o centro do (meu) universo sou eu. Tudo começou no meu aniversário, Ana. Pessoas que eu jamais esperaria um esquecimento ou desconsideração, o fizeram. E então eu entendi: não há ninguém mais importante que eu. Nunca houve. Pensar em mim é não sentir obrigação de responder quem só se reclama da vida, como se tudo fosse um problema, como se não desse pra extrair nada de bom de nenhuma situação. Pensar em mim é não sentir obrigação de comprar algo pra alguém porque entendi a indireta do "estou com vontade de comer tal coisa". Pensar em mim é praticar mais ainda o "responder depois", porque se era um pedido, eu responderia na hora, ocupada com o que estivesse, parando tudo pra cuidar do outro. Ana, você sabe quantas vezes eu chorei magoada com as atitudes de alguém, mas não dizia nada pra não ferir seus sentimentos? Eu permaneci num namoro que me fazia infeliz só pra não fazer a pessoa sofrer pelo término, e pior: só tive coragem de encarar o quanto era ruim depois que finalmente terminei, e isso quer dizer que eu não me permitia nem pensar no que me fazia mal só pra ver o outro feliz. Me pergunto onde eu poderia parar se continuasse assim, Ana. Hoje eu durmo e acordo com cobranças: "cadê você? Não vai me responder? Vamos fazer tal coisa?". Tal coisa que depende exclusivamente de mim ou de algo meu e quando eu nego ou não respondo, recebo sempre: "ah, você não era assim antes". Verdade, eu não era. E eu quero continuar não sendo. Eu quero ser cada dia mais livre. Quero aprender a dizer "não" depois da quantidade absurda de "sim" mentiroso que eu já disse. Eu tenho que praticar o não, Ana. O não pelo não, sem explicações, apenas porque eu não quero. Eu vou ficando cada dia mais sozinha, Ana. E quer saber? Eu nunca me senti tão leve.












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Tudo.

Eu sempre faço isso. Sempre. E eu já tinha me cansado e me prometido de que nunca mais o faria, mesmo já o tendo feito de novo e de novo e de novo. No fundo, eu sou uma romântica que acredita no poder do amanhã, afinal "românticos são loucos desvairados". Eu tinha me jurado que não era tempo, que eu não deixaria ninguém, ninguém mesmo, entrar. Nem que batesse na porta, nem que espancasse a porta, nem que tentasse derrubar a porta, nem se conseguisse destruir a porta... porque aí eu pularia pela janela. Era isso, era essa a decisão. E então tu chegou. Eu sei como tu veio, mas eu gosto de pensar que não sei, porque pareceu tão assim, de repente (e meio que foi). E eu estou caindo fora antes que eu peça pra você entrar, pelo simples fato de que eu destranquei a porta e esqueço da minha promessa quando o pensamento é sobre você. Isso aqui pode até parecer uma declaração, mas não é. Não tem sentimento pra tanto, não tem noites em claro, não tem sonhos antes de dormir e sonhos enquanto durmo, mas eu tenho medo de que eu acabe deixando acontecer, de me pegar pensando "e se...", sabe? Mas eu me prometi, e mesmo se não houvesse promessa, após tantos socos e lágrimas e não's, eu finalmente entendi que não podemos pedir a ninguém pra entrar ou pra ficar. O problema é que eu me deixei encantar, mas eu não posso. Porque o encantamento é o início da ladeira abaixo que vai cortando a pele, a alma, os músculos, os ossos, tudo, tudo, tudo, vai cortando tudo, vai ferindo tudo, vai sangrando tudo, tudo, tudo, tudo. Até só sobrar a gente deitada num colchão no chão do quarto, levantando apenas pra o almoço ou talvez a janta, dando as caras pela casa só pra família não perceber que você já não é mais você, fugindo do Sol, fugindo de gente, dormindo no colchão no chão por três meses porque você não tem força de colocá-lo na cama. Porque você não consegue nem mais existir. Porque os únicos momentos livres de dor são os dois segundos ao acordar quando você não recobrou a consciência ainda e então vem o baque e você recomeça a chorar, porque até respirar dói quando sua existência dói. Eu não lembro bem desses dias, se era segunda ou sexta-feira, se eu sorria de mentira, eu não lembro, eu só lembro que doía tudo e que eu pairava no ar, suspensa, me olhando de longe, mas era tudo em névoa. Eu não lembro como era, mas eu lembro como me sentia. E eu causei isso a uma pessoa, eu acabei causando isso a uma pessoa tão boa. E quando não é comigo, vai ser com os outros, então? Eu não sei, eu tenho medo. De tudo, tudo, tudo.





Tudo. Tudo pesa.
Até pensar.
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O tamanho das coisas.


Essa semana eu entrei, após anos, na casa que morei minha infância e adolescência inteiras. Na minha memória e histórias meu quarto era enorme. Sim, ENORME. Assim, com letras garrafais. Enorme, eu sempre dizia. Mas não é. Passei porta adentro e me deparei com um quarto no máximo mediano. Como coube tanta coisa ali? Acho que cabem mais memórias do que móveis, mais histórias do que “as duas camas com folga” que eu jurava caber lá dentro.

Vocês já pararam pra pensar no tamanho das coisas? A gente cresce e as coisas ficam pequenas ou será que a gente cresce e nossas lembranças que tornam as coisas grandes?

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